terça-feira, 15 de novembro de 2016

O Limpador de Placas

Era um dia comum de estágio no ensino fundamental I, precisamente no 3º ano de uma Escola Estadual localizada em um bairro na zona leste do estado de São Paulo; Bem, pelo menos eu imaginava ser um dia comum, na qual eu seguiria uma rotina de observações que me levariam a profundas reflexões sobre as práticas escolares. Mas, de relance vejo um menino alvoroçado e chateado em um pequeno canto na sala de aula. 
Sem delongas lhe pergunto o que havia acontecido para tê-lo deixado daquele jeito. Ele me disse que não gostava de ir à escola e que estava lá por obrigação, pois seus pais estavam o castigando por ele ser um menino mal. É que, uma semana antes da minha chegada o menino em questão havia tentado fugir da escola e, pasmem, até conseguiu quebrar os portões da instituição. Meio inexperiente, tentei dizer palavras que pudessem fazer sentido à sua estadia na escola, porém a resposta do garoto foi essa: “a única coisa importante nesse mundo é saber a direção dos lugares”. Eu não entendi muito bem, mas logo o garoto me confessou que gostaria de viajar e conhecer o mundo todo e não queria ficar preso em uma sala de aula chata aprendendo coisas que não ia precisar. Em suas explicações para tentar se livrar da escola e de mim, o menino disse algo que me deixou pensativa: “ Eu posso aprender tudo o que preciso na rua”.
Nesse momento, me bateu uma ideia, e ela pulsou como as epifanias que Clarice Lispector dizia ter quando criava suas obras. Dentro da minha bolsa havia um livro que poderia me auxiliar a fazer um trabalho dirigido e que tivesse significado real para aquele garoto. Quer saber qual o livro? Simples O Limpador de Placas.
O Livro trás a história de um senhor humilde que trabalhava limpando placas. Ele era feliz em sua profissão e fazia seu trabalho com muito esmero, porém, um dia, ouviu uma conversa entre mãe e filho e, desde então não foi mais o mesmo. Acontece que aquele homem descobriu que não conhecia nada sobre as placas da cidade que ele limpava há anos. Por que tinham aqueles nomes? Nomes esses que lhes soavam familiar como, por exemplo, a Rua Guimarães Rosa. Assim, decidiu anotar os nomes a fim de fazer uma pesquisa sobre eles. Então descobriu milhões de histórias e novidades. As placas levavam nomes de escritores, poetas e músicos renomados e, para o Limpador de Placas foi uma maravilha aprender sobre cada uma delas. Seu trabalho foi além e aquele homem sentiu-se realizado; até foi convidado para um programa de televisão, e no final......bem ai vocês vão ter que descobrir. Só posso adiantar que é um final surpreendente e que nos deixa uma bela lição.
E foi com essa linda história que comecei a realizar um trabalho didático a partir da realidade daquele menino. Claro que fui supervisionada pela professora titular da sala que, diga-se de passagem, é maravilhosa e me ajudou bastante. Eu queria que, assim, como o Limpador de Placas foi muito além de suas expectativas, aquela criança, que se dizia má, também enxergasse além. De certa forma o menino não estava errado o conhecimento salta para além da sala de aula. E, para tanto precisamos fazer com que o ensino e aprendizado faça sentido real às crianças. 
Assim, montamos um projeto sobre literatura que superou minhas expectativas. A escola toda se mobilizou. E o menino que queria viajar pelo mundo todo, aprendeu que é importante ir à escola, pois lá, ele aprenderia a ler e ler é fundamental para compreender o que diz as placas que mostram a direção da jornada que seguiria quando adulto. Literalmente.
E vocês? Têm histórias pedagógicas para compartilhar? deixe nos comentários. 
Beijos até a próxima 

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